Análise de Acidentes: Indo Além da Causa Imediata
Por: CONAME - 12 de Dezembro de 2025
A ocorrência de um acidente de trabalho, por mais indesejada que seja, representa uma oportunidade crítica para aprimorar a gestão de Saúde e Segurança do Trabalho (SST). No entanto, a eficácia da prevenção futura depende diretamente da profundidade e da metodologia aplicada na Análise de Acidentes. Limitar-se a identificar a "causa imediata" – o erro humano ou a falha do equipamento – é um erro estratégico que condena a empresa a repetir os mesmos incidentes. A prevenção efetiva exige ir além, buscando as "causas raiz" que estão na base do sistema de gestão.
A Causa Imediata é o que aconteceu: o trabalhador escorregou, a máquina falhou, o EPI não foi usado. Essa é a ponta do iceberg. A correção focada apenas nesse ponto é superficial e temporária. O trabalhador pode ser advertido, o equipamento pode ser consertado, mas o problema sistêmico que permitiu a ocorrência do acidente permanece intocado.
A Causa Raiz é o porquê o acidente aconteceu: por que o piso estava molhado? Por que o trabalhador não usou o EPI? Por que a máquina falhou? A resposta a essas perguntas revela falhas no treinamento, na supervisão, na manutenção, no planejamento ou, em última instância, na cultura de segurança da empresa. A Análise de Acidentes deve ser um processo investigativo que desvenda essas camadas.
Existem diversas metodologias para a Análise de Causa Raiz (RCA - Root Cause Analysis), sendo as mais comuns o Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe), a Técnica dos 5 Porquês e a Análise de Árvore de Falhas (FTA). O uso dessas ferramentas força a equipe de investigação a ir além do óbvio, mapeando as relações de causa e efeito até chegar à falha fundamental do sistema.
A Análise de Árvore de Falhas (FTA), por exemplo, começa com o evento indesejado (o topo da árvore) e, através de lógica booleana, decompõe o evento em falhas básicas (as raízes). Essa abordagem estruturada garante que todas as possíveis contribuições para o acidente sejam consideradas, desde a falha de um componente até a ausência de um procedimento.
A participação multidisciplinar é essencial. A equipe de investigação não deve ser composta apenas por profissionais de SST, mas incluir o colaborador acidentado (se possível), o supervisor da área, o pessoal de manutenção e, em casos complexos, a alta gerência. Essa diversidade de perspectivas garante uma visão completa do evento e evita o viés de culpar apenas o trabalhador.
O foco na prevenção deve ser o objetivo final. A análise não é para encontrar culpados, mas para identificar as falhas do sistema e gerar Planos de Ação eficazes. Esses planos devem ser específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com prazo definido (SMART), e devem ser integrados ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) da NR-1.
A documentação e o compartilhamento dos resultados são cruciais para a melhoria contínua. O relatório de análise deve ser claro, objetivo e amplamente divulgado (sem expor o colaborador) para que toda a organização aprenda com o erro. O PGR deve ser atualizado com as novas medidas de controle.
A cultura de não punição para o relato de quase-acidentes e incidentes é um pré-requisito para uma análise eficaz. Se o colaborador tem medo de ser punido, ele não relatará as falhas, e a empresa perderá a oportunidade de prevenir o acidente antes que ele ocorra
Em resumo, a Análise de Acidentes é a prova de fogo da gestão de SST. Ao ir além da causa imediata e investir na busca da causa raiz, a empresa transforma um evento negativo em um catalisador para a excelência operacional, garantindo que a prevenção seja um processo contínuo, inteligente e verdadeiramente eficaz.